segunda-feira, 27 de março de 2017

Sussurro.

Habitava o reino dos sonhos que pouco habito quando acordo-me em um susto com um dos gritos de Maria, eram tantos, mas dessa vez só um sussurrou em meu ouvido, enquanto a moça escutava na sala uma música não identificada, o grito ficou longe, foi para a porta de saída da casa, achei que fosse sonho, mas não, o grito era nitidamente dela, era um dos gemidos dolorosos que ela não podia dizer os motivos, mas eu sabia quais eram. Esses gritos foram os que mostraram-me a noite, o passo da madrugada para todas as manhãs, eles já faziam parte de mim, de nós.
Acordei, escutei o sussurro em meus ouvidos e não voltei a dormir, fiquei esperando os próximos gritos que jamais voltariam na mesma noite, Maria gritava de dor, de raiva, de saudade, de amor, talvez de desespero por viver tanto tempo sendo parte de lençóis brancos, azuis, floridos, chegou um dia que ela não os quis mais, os deixou, nos deixou; E os seus gritos carrego comigo, vez em quando eles desaparecem, mas me acompanham com a mesma frequência da minha saudade. Eu a ouvi, em um leve susto do sono, era o sussurro da saudade. Era a voz da saudade.

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