sábado, 14 de março de 2015

Costura.

Temos a vida por um fio.
E ele não é firme e a agulha fina.
Parei de chorar pitangas.
Agora choro amoras e acerolas 
são mais saborosas.
Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só.


Florbela Espanca.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Sujeito de Sorte.

"Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte
Porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte
E tenho comigo pensado deus é brasileiro e anda do meu lado
E assim já não posso sofrer no ano passado
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro..."


Belchior
 

quarta-feira, 4 de março de 2015

Mínima II.

Entre a cruz e a espada, eu sangro.
Sou uma filha da lua.

domingo, 1 de março de 2015

Prece VIII.

Fiz um chá de desamor e bebi do tempo que não te vejo.
Que as ervas do tempo ouçam-me por dentro.

179.

Ele atravessou aquele corredor imenso cantarolando.
Um breve e doce silêncio, dominical. 
Não era um corredor qualquer;
Era o corredor de um ônibus.

Crescente.

Lá estava ela sentada, de olhos fechados no ônibus.
Sem dormir.  
O ventre e o óvulo da cor dos lábios,
A sexta-feira é uma transa. Sábado uma gestação.
Domingo um parto natural de um corpo cansado 
e uma alma que ainda não descansa em paz.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Simetria I.

Ela andava meio só.
Cansou-se de mim.
E eu insistente com a vida e com os amores
a levei pra sair. Depois de cabelos lavados,
de uma insistência um pouco maior que minha vontade, fomos.
Andamos por uns lados, por outros cantos.
Encontramos no caminho uma porta encantada, nos encaixamos nela.
Foram horas mágicas por aquelas tantas árvores vistas do alto.
Foi instante longo dentro daquela sala que luzia.
Dias depois voltamos e continuamos guardadas.
Uma tão distante quanto a outra.
Continuamos meio só com as nossas companhias.



Assimétrica.
Foto: Maria

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Cesta de domingo.

Entre tanto barulho só, que começou levemente a se embarulhar de seu amor tão antigo, ainda. E o felino sumido em sua barriga, Pensando em Ti, lá em Portugal em Santa Maria da Feira, nunca ei de me atrever a querer ir! Nunca. 
E eram tantos, Inaniel, Paloma, Estela e Bianca, que só por esse domingo mim perdi junto com o gato gordo e só como eu. Ei de outro dia encontrar um Felis silvestre mais antigo ainda que o teu, ou mais que tu.
Por fim te vi. 
Era um felis tão pequeno e tão quieto e por fim perdi
Nos dias da solidão, por mais que não queiras, dentro do ninho as lembranças dançam.
Em cima das coisas a felina grita, silenciosamente, e então vai ler poesia e lembrar de outros dias. 
Não adianta mais procurar a Cria Felino sumiu, alguém o achou para caçar pra ele por aí. 
Ainda encontro-o em um rio afogando em histórias dos outros, só pra caçar um aquário de peixinhos multi cor deles. 

sábado, 31 de janeiro de 2015

O pó da casa era tanto
varri a solidão pra debaixo do colchão.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Bruxas do tempo.

Somos netas da decência assediada pelo machismo mascarado de uma terra daqueles que agridem a natureza e matam de sede as flores que carregam no ventre a verdadeira vida de luz.
Somos filhas do reflexo de uma vida mutilada pelas mãos do criador de ferramentas pesadas, jogadas nos ombros calmos e cheirosos daquelas que o sol queima a pele e pintam os labios de vermelho.
Somos as donas do tempo, as rosas coloridas e espinhosas que sobrevivem ao caos daqueles de punhos grossos e fortes que não compreendem a delicadeza e a dádiva de ser MULHER.


Amanda Lima, uma queria amiga.

Assaltos.

As vítimas 
matei todas.
Só falta eu.
Agora o meliante sem escrúpulos rir
em um abismo branco de quatro paredes.

Juventude X Velhice.

Creio que se pode traçar uma fronteira muito precisa entre a juventude e a velhice. A juventude acaba quando termina o egoísmo, a velhice começa com a vida para os outros. Ou seja: os jovens têm muito prazer e muita dor com as suas vidas, porque eles a vivem só para eles. Por isso todos os desejos e quedas são importantes, todas as alegrias e dores são vividas plenamente, e alguns, quando não vêem os seus desejos cumpridos, desperdiçam toda uma vida. Isso é a juventude. Mas para a maior parte das pessoas vem o tempo em que tudo se modifica, em que vivem mais para os outros, não por virtude, mas porque é assim. A maior parte constitui família. Pensa-se menos em nós próprios e nos nossos desejos quando se tem filhos. Outros perdem o egoísmo num escritório, na política, na arte ou na ciência. A juventude quer brincar, os adultos trabalhar. Não há quem se case para ter filhos, mas quando chegam, modificamo-nos, e acabamos por perceber que tudo aconteceu por eles. Da mesma forma, a juventude gosta de falar na morte, mas nunca pensa nela; com os velhos acontece o contrário. Os jovens acreditam ser eternos e centram todos os desejos e pensamentos sobre si próprios. Os velhos já perceberam que o fim vai chegar e que tudo o que se tem e se faz para si próprio acaba por cair num buraco e de nada valeu. Para isso necessita de uma outra eternidade e de acreditar que não trabalhou apenas para os vermes. Por isso existe a mulher e os filhos, o negócio ou o escritório e a pátria, para que se tenha a noção de que o esforço diário e as calamidades têm um sentido.
—  Hermann Hesse  

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Vento-maré.

Por mim eu morreria aqui, agora, neste vento, neste mar.
Por mim iria embora com está lua, este vento e esse belo nascer do sol.
Morreria nesta água de sal.
Não teria arrependimentos, tenho agora apenas uma mágoa por nenhum me levar.
Mas por mim, minha alma iria embora com este mar, sem dor nenhuma.
Minha alma precisa descansar, precisa se calar.
Ela iria sem reclamar, sem pensar.
 Mas eu tenho medo da morte...
Gira mundo
ou
Gira sol?

Gira só.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Festa com Tradição.

- Prefiro várias Alamandas,
várias Rosas a uma Maria.
Porque elas sabem ser leves. Sabem não tocar o chão.
As Marias, coitadas, são pesadas, sacos de pancada,
merecem apanhar da vida.

- Oh, moça não digas isso.
Você é profunda,
Mas as dores de uma Maria são mais profundas ainda. 
Vai além do peito, atravessa a carne
e ela tem marca por toda a alma.
E tu, és egoísta demais para ver a dor do outro.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Agora o caos foi lançado.
Meu corpo se revira do avesso.
A garganta vira nó e a calma se contorce.
Outra vez esse caos, essa inquietude rondando minha alma.
Outra vez esse desassossego.
Essa torre de babel que faz morada em meu peito,
nesse coração tão pequeno.
Meu coração miúdo não aguenta tanta algazarra.
Ela não ver que o corpo já pede paz, não quero mais ser caos.
Não quero mais ser caos, quero ser mãe!

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Despedida.


É tudo um plano de voou
Para o infinito do céu.
Tem uma hora que a alma não aguenta mais
pede ao corpo para S A I R. 

Transformar-se em uma nova constelação.

De - si - LUZ - são.