Auto retrato.
Das águas que correm,
nos olhos calados.
Dos anos que passam na face cansada.
Do amor que não vem,
não espero mais nada.
Um dia viro água,
flor de junho,
cachoeira,
sol vermelho
no azul do mar.
Um dia viro relógio de parede.
Menina das horas.
Auto retrato.
Retrato quieto.
Das horas que correm, nos segundos que fogem.
Da vida que passa,
dos sonhos que descansam
Do medo do tempo,
do grito das horas.
Um dia viro retrato,
guardado,
no silêncio da parede
que parte,
sem parte.
Um dia viro retrato.
Maltratado pelos dias.
Auto retrato.
De Dona Maria.
Um dia viro,
viro doida,
viro dona,
dos sonhos,
dos jardins,
dos dias
de junho.
Que passam.
Um dia viro, me viro,
e viro feliz.
Esqueço as datas
E desapego do tempo.
Um dia morro e viro poema, virada de lua
ou viro leoa.
Vinte e seis de junho de dois mil e quatorze.
Inverno canceriano.